Os trajes e os corpos
Gli abiti e i corpi
Ormai sfibrate le asole e sapienti
Rammendi qua e là ‒ ma gli abiti
Sembravano come nuovi. Egli
Accurato ogni sera li deponeva
Sopra una sedia ‒ quali
Che fossero l’umore o la stabilità
L’uxorio brontolamento che lo affliggeva.
E deponeva con essi il tic-tac
Che gli scandiva giorni e notti, l’oriolo
Da tasca con una croce
Elvetica in campo rosso ‒ emblema
Di esattezza agganciato a una teca di cristallo
Con dentro una trapunta di velluto
In attesa di reliquie microscopiche.
Gli abiti duravano anni:
Il nero, il grigetto, un altro a spina di pesce.
E ognuno col suo panciotto sul quale durante il giorno
La catenella che pareva di diamanti
Tra un’asola e l’oriolo nel taschino si stendeva.
Lui certe sere era greve di vino.
Si spogliava nel sonno, puntava al mattino.
Ma si destava fresco come certe volte io
Adesso forse più vecchio di quella sua età,
Che lo sbirciavo ritrovare le sue spoglie:
La giacca dignitosa, i pantaloni
Dall’impeccabile piega. E perché
Non dire del fregio rosa sulle mutande?
Perché tacere il colletto inamidato?
Tutto così ringiocondiva a ogni
Risveglio ‒ sbarbato e tranquillo
E di un colore chiaro se distese dal riposo
Sbiadivano sulle guance le venuzze capillari.
Quale decoro l’abito
Rinnovato ogni giorno, restaurato
Dal persistere della giovinezza!
Dico il nero, il grigetto, un altro a spina di pesce
E un quarto credo ereditato da un parente
Defunto: duravano anni.
Io li spiavo mattina dopo mattina
E lui spiavo impassibile a tutto:
Al passare del tempo,
Al male dei creditori.
Giovanni Giudici, Il male dei creditori, Milano, Mondadori, 1977.
Os trajes e os corpos
Casas de botão já carcomidas e engenhosos
Cerzidos aqui e ali – mesmo assim os trajes
Pareciam novos. Ele
Cuidadoso, acomodava-os todas as noites
Sobre uma cadeira – quaisquer
Que fossem o humor ou a estabilidade,
Os murmúrios uxórios que o afligiam.
E com eles acomodava também o tique-taque
Que cadenciava seus dias e noites, o relógio
De bolso com uma cruz
Helvética em um campo vermelho – emblema
De precisão acoplado a uma caixa de vidro
Com um acolchoado de veludo por dentro
À espera de relíquias microscópicas.
Os trajes duravam anos:
O preto, o cinzento, um outro com padrão chevron.
E cada um com seu colete em que durante o dia
A corrente que parecia feita de diamantes
Entre uma casa de botão e o relógio no bolso, estendia-se.
Ele, nalgumas noites, saturava-se de vinho.
Despia-se dormindo, adiava tudo para a manhã.
Mas acordava fresco como, às vezes, eu
Agora talvez com mais idade que aquela sua,
Que o espreitava encontrando os seus despojos:
O paletó distinto, as calças
Impecavelmente vincadas. E por que
Não falar do friso rosa no calção?
Por que não mencionar o colarinho engomado?
Assim, tudo se revigorava ledamente a cada
Despertar – barbeado e calmo
E de cor clara quando relaxadas pelo repouso
Esmaeciam nas bochechas as veias diminutas.
Que decoro o traje
Renovado todos os dias, restaurado
Pela persistência da juventude!
Falo do preto, do cinzento, de um outro com padrão chevron
E de um quarto, acredito, herdado de um parente
Falecido: eles duravam anos.
Eu espiava-os a cada manhã
E ele, eu espiava-o impassível a tudo:
À passagem do tempo,
Ao mal dos credores.
graduated in Fine Arts from UNICAMP (1998) and worked as a designer and teacher. In 1997, she received the Uma Professora Muito Maluquinha award from Melhoramentos publishing house. Since 2006, she has lived in Italy, where she works as a translator and is completing her undergraduate degree in Languages and Foreign Cultures at UNIPG. As a writer, she has contributed to collective publications of short stories and poetry, the most recent being the short story anthology Antropocenas (2024). She won the Mapa Cultural Paulista award with the short story Lucicleide na Janela (2004) and published the novel Memorial das Flores (2015).