asas
os pássaros enchem o ecrã
de voo e susto
mas não é esse o filme
descobre o que diz a casa
no escuro e descobrirás o fio
da obra a seu tempo
temas e comodidades
rosa e azul technicolor
manifestam extrema intolerância
contra os tolerantes
que vão caindo
na película
tudo se mostra literal
cansado de tanto significado
o ar desiste
as penas doem
mas cobre-se a imagem de agenda
batendo até desaparecer
invisível inviável
ao tacto
todos abandonam o ecrã
lado a lado a medo
o filme por escrever
quem resta procura ainda
no fim de festa uma explicação
corpo de delito
matéria do seu próprio anúncio
certa sujidade
e nada mais é dito
apenas um pedido
a obra de arte sem legenda
nasceu em Coimbra, Junho de 1978. Publicou livros de poemas e livros-objecto em pequenas editoras ou edições de autor. Dedica-se também à colagem. Vive em Køge, Dinamarca.